Estes trabalhos certamente não esboçam tudo o que penso hoje sobre a correlação entre geopolítica, fragmentação, militarização da vida urbana e a vida nas cidades, sejam elas cidades pequenas e médias, sejam elas metrópoles, sejam elas cidades fronteiriças. No entanto, estes trabalhos seguem uma perspectiva de método que para entender as cidades na América Latina é importante que elas sejam tratadas dentro das sucessivas ondas de urbanização a que foram submetidas em cada período geopolítico desde a colonização. E, neste sentido, os processos de divisão socioespacial nas cidades, as desigualdades e fragmentações urbanas, expressas, por exemplo, na civilidade dos Estados com os grupos de alto poder e na brutalidade com os grupos em franco processo de marginalização e subordinação, geralmente de ascendência negra ou originária, quase sempre com sobreposições de violências sobre crianças, mulheres e homossexuais, não podem ser entendidos como o avesso de nossa experiência urbana, mas como sua trágica dinâmica. As favelas, las villas, los cantes, los barrios malos e las chacaritas, não são expressões contraditórias da experiência urbana latino-americana, elas são nossa própria condição urbana, que teimamos em negar, ao negar ficamos impedidos de enxergar o centro de nossas feridas.