Narra com muita ação, de maneira cinematográfica, prendendo-o à leitura da vida de um homem que simboliza o Brasil, cheio de injustiças, porém com exemplos de pessoas que lutaram para que a liberdade de expressão pudesse se tornar realidade. Afroníger mostra a dor de um inocente que sente sua alma ressequida pela mágoa e pela perseguição espiritual da Besta de Cedro, um instrumento religioso de tortura, construído para castigar os hereges na época que os holandeses dominaram Pernambuco, mas usado – em tempos recentes - para punir jovens politizados, rebeldes e corajosos que não aceitavam o cálice de sangue da ditadura e se mostravam dispostos a dar a vida pelo que acreditavam. O cruel Febrônio Machado torna-se exemplo dessa mentalidade violenta.Na obra, o leitor encontra um tom poético e intertextual, com imagens tipicamente brasileiras e ensinamentos sutis, demonstrados por vários personagens, encorajando as pessoas a trabalhar pela transformação da sociedade, sem se deixar vencer pelas adversidades. Karl, um médico alemão, que salva a vida de Afroníger e é perseguido por isso, exemplifica a disciplina e o racionalismo, trazidos da Alemanha e associados ao bom-humor e à criatividade dos brasileiros. O médico induz os leitores a valorizarem a pluralidade cultural dos povos. Heidi, esposa de Karl, dignifica-se como exemplar de mulher que não se entrega às dificuldades da vida, vai à luta e encara os fatos com muita coragem e bondade no coração. Olavo, que salvou Afroníger de afogamento no rio Madeira, levando-o em seguida ao Dr. Karl, mostra-se um homem simples do interior, sem muito estudo e acostumado à vida agrícola, mas que, de maneira emocionante, ensina que viver é acordar as esperanças todos os dias, alimentando os sonhos. Porque envolve, educa, emociona e traz informações sobre a mentalidade de uma época que precisa ser superada, mas não esquecida. A luta de muitos não podem ser considerados em vão.