Na verdade ele passou o dia lembrando os olhos de Julian, tentando desvendar o que queriam dizer, e por um momento teve um segundo de cobiça, imaginando se aqueles olhos fossem seus... Talvez ela não fosse tão má como ele pensava; talvez eles só tivessem se conhecido na hora errada, afinal ele se dava tão bem com Cláudio!... Mas não podia dizer o mesmo dos outros que sempre lhes eram tão frios e arrogantes.

Julian pisou nos trilhos e suspendeu o corpo, jogando o tronco por cima da sela. Kaô por trás acompanhava seu movimento, quando inesperadamente a égua se assustou e lançou o corpo de Julian sobre Kaô, que caiu abraçado com a moça. Julian revirou seu corpo olhando fixamente para o rosto de Kaô, que parecia não acreditar no que havia acontecido. Por um momento eles paralisaram. Julian deixou cair seus lábios sobre os de Kaô iniciando um longo beijo. O vaqueiro entrelaçou os braços no corpo da filha do patrão e por cerca de um minuto o mundo parecia limitar-se a eles dois, deitados na relva. As mãos de Kaô subiam e desciam pelas costas de Julian. Suas mãos tocavam os cabelos dele, seu pescoço e invadiam sua nuca. Num movimento giratório Kaô assumiu a posição de Julian, beijando ardilmente seus lábios. Julian recobrou a sanidade e empurrou seus ombros com o propósito de se livrar daquele beijo avassalador. Kaô ao percebeu sua repulsa descolou seus lábios dos dela e levantando-se falou:

- Porque fez isso?

Ela sentou-se e com a respiração ofegante, tentava recompor-se daquilo que acontecera. Kaô deu as costas e foi atrás da égua que estava a alguns metros de distancia dali. Julian encheu os olhos de lagrimas, levantando-se do chão, sentindo–se culpada por aquele incidente. Ao longe Kaô montado no cavalo se aproximava. Parando em sua frente, desceu do animal e ofereceu a sela. As palavras faltaram... Cada vez que eles se olhavam um desejo ardente crescia, uma vontade louca de repetir aquele beijo. Dessa vez Julian subiu na égua e Kaô puxou as rédeas, até que ele montou no seu animal e saíram galopando a caminho do casarão, sem dizer uma só palavra.