«Nós — bem que nos pese dizê-lo — amamos extremosamente a nossa honra, a nossa dignidade, a nossa família, mas — demónio! — há francamente uma coisa que nós amamos muitíssimo mais do que tudo isto: — é a nossa barriga!
Da barriga, a pança; da pança, o egoísmo; do egoísmo, a ingratidão — e eis derrubado por uma lógica... gastronómica o equilíbrio moral do mundo!
(...)
Em conclusão: queres achar a origem de qualquer mal? procura a Pança.
O dito do espirituoso humorista caiu por terra, sob o peso esmagador desta eterna verdade.
«Cherchez la femme!» acabou, morreu.
Cherchez la panse!
Sabes porque a tua vizinha vende o corpo a quem lho quer comprar? Por causa da Pança.
Sabes porque foi preso o ladrão que te roubou a bolsa? Por causa da Pança.
Sabes porque o teu amigo deu um tiro na cabeça, não podendo sustentar a sua numerosa família? Por causa da Pança.
Sabes porque o ministro diz hoje que sim, amanhã que não, e depois de amanhã, nem que sim nem que não? Por causa da Pança.»
--
Esta edição, tem como base a edição original de 1866, foi cuidadosamente revista e a ortografia atualizada em conformidade com as regras do novo acordo ortográfico da língua portuguesa.